24 de janeiro de 2011

Dra, eu?

Tá, eu sei. Doutor(a) deveria ser só quem fez doutorado. Mas o título de hoje reflete as frustrações, os obstáculos que estou encontrando nessa jornada de querer fazer medicina.
Definitivamente, não é fácil. É difícil, a beira do impossível.

Há cerca de cinco anos, fazer medicina estava definitivamente fora dos meus planos. Não me animava. Meu sonho? Era ser professora. De matemática. Mas como eu sabia que a minha família (entenda meu pai) NUNCA aceitaria que eu fosse para a universidade fazer licenciatura, eu pensava em fazer Economia ou Ciências Contábeis.
Pois então que 2007 me trouxe muitos momentos de reflexão. Eu senti que a vida me cobrava que tipo de pessoa eu queria ser. Eu estava confusa. Quando alguém me perguntava o que eu queria ser, aquela garota de 14 anos apenas respondia "Economia". Eu achava que se eu fizesse economia, poderia virar, sei lá, presidente da república e melhorar o país. Eu, sei, é uma coisa muito ingênua (embora eu pense assim até hoje), mas eu só tinha 14 anos. Eu ainda acreditava que teria uma festa de debutantes e que seria a rainha da popularidade no Ensino Médio. Tolinha.

E foi nessa época que Léo, nosso professor de geografia, colocou como trabalho do bimestre a avaliação dos conflitos apresentados em Amor sem Fronteiras. Amor sem Fronteiras é um filme que mostra uma socialite inglesa, eu acho, que do nada decide fazer algo de útil da vida e vira voluntária com os Médicos Sem Fronteiras. Ao longo de cerca de 15 anos, a personagem, interpretada pela Angelina Jolie, passa pela África Subsaariana, pelo Camboja, pela Xexênia (ou seria Chechênia?). Bem, o fato é que assistir àquele filme fez com que eu decidisse o que eu queria ser da minha vida. Uma médica. Uma médica que viajasse o mundo, que cuidasse de pessoas marcadas pela pobreza, pelos traumas, por doenças físicas e mentais. Cuidar de crianças aidéticas e adolescentes grávidas devido a estupros. De dar um raio de luz que seja a quem só quer sorrir por segundos.
Por favor, não contem a papai o porquê desse meu sonho. Ele acha que é porque eu quero dominar o mundo. Talvez seja melhor ele continuar pensando assim.

A minha vida tomou um rumo completamente diferente a partir desse instante. Desisti de fazer Ensino Médio Técnico e, ao fim da oitava série, me senti motivada por duas amigas, Amanda e Isabela, a participar do concurso público para ingresso de novos alunos no Colégio Pedro II, cuja nova unidade havia sido recentemente instalada em Niterói. Fiz as provas e consegui passar em 1º lugar, para orgulho dos meus pais. O mais incrível é que eu não estava nem um pouco preparada. Sério mesmo. Eu apenas fiz uma oração antes da prova e pedi que Deus me colocasse no melhor caminho, que seus planos para mim se realizassem. E assim foi.

Em 2008, comecei a estudar lá e, com muito esforço (sério mesmo, foi quase uma guerra), consegui participar do Programa de Vocação Científica fruto de uma parceria entre a escola e a Fundação Oswaldo Cruz. A princípio, a coordenação não me aprovou, mas eu chateei tanto, tanto, que me colocaram no processo seletivo. No dia da entrevista, quase desmaiei de nervoso. Cerca de dois meses depois, o resultado: aprovada. E logo para o que eu queria: neuroinfecções! No primeiro dia do estágio ( que é bom destacar, não tinha NENHUMA remuneração) recebi a notícia de que houve um engano e que eu não poderia ir para o departamento de neuroinfecções, pois essa vaga era para universitários, eles haviam se confundido. Tive de voltar para casa e esperar ser chamada para um outro setor.

Cerca de um mês depois, conseguiram me encaixar no Depatamento de Vigilância em Leishmanioses, um laboratório referência nacional na doença. E eu só tinha 15 anos! Entretanto, com o tempo descobri que laboratório não era a minha praia. O que me aproximava da medicina era a onvicência humana. Comecei a me senti infeliz lá, a cada dia pior, e, em setembro de 2009, abandonei o estágio.

Comecei a estudar muito para o vestibular de medicina, que, na minha opinião, só é pior que IME, ITA e Harvard, embora eu nunca tenha tentado entrar em nenhum dos três.
Acontece que meus pais nunca tiveram condições de bancar um pré vestibular pra mim, o que fez com que a Luminha aqui dependesse dela, só dela. Ao contrário de muita gente, eu não tenho avós, tios ou padrinhos que me dêem as coisas. Ninguém nunca me deu nada. Não é agora que seria diferente.

Contei com os livros da biblioteca, com todas as aulas de aprofundamento que nossos professores nos davam voluntariamente durante as tardes, não saí, não aproveitei meu fim de adolescência. Me dediquei a meu sonho. Devorando livros de biologia, caçando os professores nos intervalos para tirar dúvidas, fazendo provas dos últimos anos quase toda semana.

Tenho noção de que a medicina não é apenas um carreira profissional. Muito menos a medicina que eu quero. Não, medicina é um estilo de vida. Ser médico é como ser hippie, roqueiro ou torcedor de futebol. É dedicação total.

Entrentanto, parece que nada disso foi suficiente. Não passei para nenhuma universidade, embora, particularmente, acredito que tive boas pontuações. É meio chato você perceber que poderia fazer qualquer coisa que quisesse, mas justo aquilo que você quer está inalcançável.
Meu pai me chateou quando abriu o Sisu para que eu fizesse Direito, mas eis uma cois que definitivamente não quero fazer. Tivemos sérios problemas em relação a isso.

Após sair o resultado do Sisu, o último, pelo qual eu aguardava ansiosamente, a decepção se abateu sobre mim. Fiquei em 15º de 12 vagas. Provavelmente não serei reclassificada, já que essas vagas são para cotistas. Me inscrevi no prouni e agora, creio que tenho boas chances. Não estou concorrendo com os riquinhos que fizeram os melhores cursos pré vestibular.

Mas será que vale a pena desistir assim tão fácil de ir para uma universidade pública? Não é apenas pela questão do ensino. É pela própria convivência. Quero dizer, uma faculdade de medicina particular custa cerca de 3.000 reais por mês! Eu vou estudar numa turma que, só de mensalidade, gasta mais do que o que meus pais ganham trabalhando o mês todo!

Não que isso vá me fazer desistir do meu sonho. Não mesmo. Não vou fazer que a minha avó falou, desistir dessa história de faculdade. Dá pra acreditar que a minha própria avó falou isso? Que se eu sei que é inviável ir para a universidade, eu tenho que arregaçar as mangas e ir trabalhar para ajudar meus pais. Cansei de ouvir as pessoas dizendo que quem vem de baixo como eu não pode chegar no topo.

Nesses momentos, onde a vontade de desistir de abate sobre mim, junto com lágrimas, lembro-me de Benjamin Carson. O Dr. Ben Carson é um neurocirurgião mundialmente famoso. Ele veio de Detroit, era pobre, sua mãe era empregada doméstica e seu pai havia largado a família. Mas ele não desistiu. Com muitas dificuldades ele se formou em Yale, se não me engano, e aos 33 anos já era chefe da neurocirugia pediátrica do Hospital Universitário John Hospikins ( não sei se é assim que se escreve). Bem, eu quero ser como ele. Quero mostrar as pessoas que, se a gente sonha, a gente consegue.

Se vocês quiserem saber mais sobre Ben Carson, podem ler sua biografia ou assistir o filme que mostra sua jornada, "Mão Talentosas".

Tchau, já chateei vocês demais por hoje.

=*

24 de janeiro de 2011

Dra, eu?

Tá, eu sei. Doutor(a) deveria ser só quem fez doutorado. Mas o título de hoje reflete as frustrações, os obstáculos que estou encontrando nessa jornada de querer fazer medicina.
Definitivamente, não é fácil. É difícil, a beira do impossível.

Há cerca de cinco anos, fazer medicina estava definitivamente fora dos meus planos. Não me animava. Meu sonho? Era ser professora. De matemática. Mas como eu sabia que a minha família (entenda meu pai) NUNCA aceitaria que eu fosse para a universidade fazer licenciatura, eu pensava em fazer Economia ou Ciências Contábeis.
Pois então que 2007 me trouxe muitos momentos de reflexão. Eu senti que a vida me cobrava que tipo de pessoa eu queria ser. Eu estava confusa. Quando alguém me perguntava o que eu queria ser, aquela garota de 14 anos apenas respondia "Economia". Eu achava que se eu fizesse economia, poderia virar, sei lá, presidente da república e melhorar o país. Eu, sei, é uma coisa muito ingênua (embora eu pense assim até hoje), mas eu só tinha 14 anos. Eu ainda acreditava que teria uma festa de debutantes e que seria a rainha da popularidade no Ensino Médio. Tolinha.

E foi nessa época que Léo, nosso professor de geografia, colocou como trabalho do bimestre a avaliação dos conflitos apresentados em Amor sem Fronteiras. Amor sem Fronteiras é um filme que mostra uma socialite inglesa, eu acho, que do nada decide fazer algo de útil da vida e vira voluntária com os Médicos Sem Fronteiras. Ao longo de cerca de 15 anos, a personagem, interpretada pela Angelina Jolie, passa pela África Subsaariana, pelo Camboja, pela Xexênia (ou seria Chechênia?). Bem, o fato é que assistir àquele filme fez com que eu decidisse o que eu queria ser da minha vida. Uma médica. Uma médica que viajasse o mundo, que cuidasse de pessoas marcadas pela pobreza, pelos traumas, por doenças físicas e mentais. Cuidar de crianças aidéticas e adolescentes grávidas devido a estupros. De dar um raio de luz que seja a quem só quer sorrir por segundos.
Por favor, não contem a papai o porquê desse meu sonho. Ele acha que é porque eu quero dominar o mundo. Talvez seja melhor ele continuar pensando assim.

A minha vida tomou um rumo completamente diferente a partir desse instante. Desisti de fazer Ensino Médio Técnico e, ao fim da oitava série, me senti motivada por duas amigas, Amanda e Isabela, a participar do concurso público para ingresso de novos alunos no Colégio Pedro II, cuja nova unidade havia sido recentemente instalada em Niterói. Fiz as provas e consegui passar em 1º lugar, para orgulho dos meus pais. O mais incrível é que eu não estava nem um pouco preparada. Sério mesmo. Eu apenas fiz uma oração antes da prova e pedi que Deus me colocasse no melhor caminho, que seus planos para mim se realizassem. E assim foi.

Em 2008, comecei a estudar lá e, com muito esforço (sério mesmo, foi quase uma guerra), consegui participar do Programa de Vocação Científica fruto de uma parceria entre a escola e a Fundação Oswaldo Cruz. A princípio, a coordenação não me aprovou, mas eu chateei tanto, tanto, que me colocaram no processo seletivo. No dia da entrevista, quase desmaiei de nervoso. Cerca de dois meses depois, o resultado: aprovada. E logo para o que eu queria: neuroinfecções! No primeiro dia do estágio ( que é bom destacar, não tinha NENHUMA remuneração) recebi a notícia de que houve um engano e que eu não poderia ir para o departamento de neuroinfecções, pois essa vaga era para universitários, eles haviam se confundido. Tive de voltar para casa e esperar ser chamada para um outro setor.

Cerca de um mês depois, conseguiram me encaixar no Depatamento de Vigilância em Leishmanioses, um laboratório referência nacional na doença. E eu só tinha 15 anos! Entretanto, com o tempo descobri que laboratório não era a minha praia. O que me aproximava da medicina era a onvicência humana. Comecei a me senti infeliz lá, a cada dia pior, e, em setembro de 2009, abandonei o estágio.

Comecei a estudar muito para o vestibular de medicina, que, na minha opinião, só é pior que IME, ITA e Harvard, embora eu nunca tenha tentado entrar em nenhum dos três.
Acontece que meus pais nunca tiveram condições de bancar um pré vestibular pra mim, o que fez com que a Luminha aqui dependesse dela, só dela. Ao contrário de muita gente, eu não tenho avós, tios ou padrinhos que me dêem as coisas. Ninguém nunca me deu nada. Não é agora que seria diferente.

Contei com os livros da biblioteca, com todas as aulas de aprofundamento que nossos professores nos davam voluntariamente durante as tardes, não saí, não aproveitei meu fim de adolescência. Me dediquei a meu sonho. Devorando livros de biologia, caçando os professores nos intervalos para tirar dúvidas, fazendo provas dos últimos anos quase toda semana.

Tenho noção de que a medicina não é apenas um carreira profissional. Muito menos a medicina que eu quero. Não, medicina é um estilo de vida. Ser médico é como ser hippie, roqueiro ou torcedor de futebol. É dedicação total.

Entrentanto, parece que nada disso foi suficiente. Não passei para nenhuma universidade, embora, particularmente, acredito que tive boas pontuações. É meio chato você perceber que poderia fazer qualquer coisa que quisesse, mas justo aquilo que você quer está inalcançável.
Meu pai me chateou quando abriu o Sisu para que eu fizesse Direito, mas eis uma cois que definitivamente não quero fazer. Tivemos sérios problemas em relação a isso.

Após sair o resultado do Sisu, o último, pelo qual eu aguardava ansiosamente, a decepção se abateu sobre mim. Fiquei em 15º de 12 vagas. Provavelmente não serei reclassificada, já que essas vagas são para cotistas. Me inscrevi no prouni e agora, creio que tenho boas chances. Não estou concorrendo com os riquinhos que fizeram os melhores cursos pré vestibular.

Mas será que vale a pena desistir assim tão fácil de ir para uma universidade pública? Não é apenas pela questão do ensino. É pela própria convivência. Quero dizer, uma faculdade de medicina particular custa cerca de 3.000 reais por mês! Eu vou estudar numa turma que, só de mensalidade, gasta mais do que o que meus pais ganham trabalhando o mês todo!

Não que isso vá me fazer desistir do meu sonho. Não mesmo. Não vou fazer que a minha avó falou, desistir dessa história de faculdade. Dá pra acreditar que a minha própria avó falou isso? Que se eu sei que é inviável ir para a universidade, eu tenho que arregaçar as mangas e ir trabalhar para ajudar meus pais. Cansei de ouvir as pessoas dizendo que quem vem de baixo como eu não pode chegar no topo.

Nesses momentos, onde a vontade de desistir de abate sobre mim, junto com lágrimas, lembro-me de Benjamin Carson. O Dr. Ben Carson é um neurocirurgião mundialmente famoso. Ele veio de Detroit, era pobre, sua mãe era empregada doméstica e seu pai havia largado a família. Mas ele não desistiu. Com muitas dificuldades ele se formou em Yale, se não me engano, e aos 33 anos já era chefe da neurocirugia pediátrica do Hospital Universitário John Hospikins ( não sei se é assim que se escreve). Bem, eu quero ser como ele. Quero mostrar as pessoas que, se a gente sonha, a gente consegue.

Se vocês quiserem saber mais sobre Ben Carson, podem ler sua biografia ou assistir o filme que mostra sua jornada, "Mão Talentosas".

Tchau, já chateei vocês demais por hoje.

=*